Neste sábado (8/4), o deputado federal Marcel van Hattem (NOVO-RS) participou do Brazil Conference at Harvard & MIT 2019, em Boston (EUA), no painel que discute como lideranças à esquerda e à direita podem, por meio de sua atuação na política partidária, na academia e na sociedade, avançar na promoção de agendas que contribuam para a melhoria da vida dos brasileiros. O líder do Partido NOVO na Câmara dos Deputados foi apresentado pela jornalista responsável pela condução do painel, Malu Gaspar, da Revista Piauí, como um representante “típico da nova direita”. A jornalista ainda mencionou que Marcel se elegeu fazendo uma campanha forte nas redes sociais, bem focado no anti-petismo e na esteira de Jair Bolsonaro.
“Preciso fazer apenas um reparo ao resumo muito bem feito da minha trajetória: eu não apareci para a política na esteira de Jair Bolsonaro. Eu fui eleito vereador aos 18 anos de idade também por uma indignação que eu via por parte dos meus pais, empreendedores que injustamente acabavam sendo alvo de reclamações trabalhistas infundadas. Em 2013 eu estava no exterior e, convencido pelos meus amigos, voltei ao Brasil para concorrer, fiquei na primeira suplência, e acabei assumindo como deputado estadual no Rio Grande do Sul antes de me filiar ao NOVO, que não existia antes, mas é o partido que representa os valores que mais concordo”, explicou Marcel.
Marcel no Brazil Conference 2019 em Boston
Perguntado sobre o que é ser de direita, Marcel explicou que o diagrama de Nolan define melhor as posições políticas das pessoas. “Em um eixo está colocado se a pessoa defende mais concentração de poder nas mãos do governo ou dos indivíduos, ou seja, mais capitalismo, ou mais socialismo. Em outro eixo fica definido se a pessoa é mais conservadora ou mais progressista nos costumes. E aí o Partido NOVO libera seus filiados para terem suas posições nas questões dos costumes, mas deixa sua posição clara sobre a postura que devemos adotar como sociedade, que é mais liberdade, que acaba refletindo em maior liberdade econômica e acaba também refletindo em mais liberdade em todas as áreas”, sublinhou.
Sobre o momento de polarização agressiva entre opiniões de direita e esquerda, a jornalista perguntou qual seria a responsabilidade da direita para este acirramento entre os dois lados. Marcel indicou que em uma democracia representativa onde o Estado de Direito funciona, sempre haverá alguém mais à direita e alguém mais à esquerda. “Saber conviver com as diferentes opiniões é muito importante para que o debate amenize esta polarização”, disse Marcel.
Ainda sobre este aspecto, o deputado Marcel foi mais adiante: para ele há um aspecto positivo e um negativo quando se analisa a polarização atual. “O aspecto negativo é o da intolerância, de não se aceitar o que o outro pensa. Mas há também outro aspecto da polarização que é o de transição para uma pluralização. Depois de 14 anos de governo do PT e do crescimento de uma hegemonia cultural de esquerda nos meios universitários e da imprensa é saudável uma mudança de rumos para uma posição política diferente dentro destes meios. Também há uma mudança na parte política, onde está acontecendo uma primeira reação por conta das eleições, que permite que a renovação ocorra mais rápido”, indicou o deputado Marcel.
Marcel no Brazil Conference 2019 em Boston
Para confirmar o que havia mencionado, Marcel apresentou os resultados de uma pesquisa feita em 2012 pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com apoio da Federação Nacional de Jornalistas (FENAJ). “São dados de instituições que tem toda a credibilidade para tratar do tema e a pesquisa foi auto declaratória. O resultado foi que 78% dos jornalistas se declararam de esquerda, desde a extrema-esquerda até a centro-esquerda. Apenas 15% se declararam de direita”, disse. Para confirmar a preferência de professores pela visão esquerdista, Marcel apresentou uma pesquisa feita pelo veículo jornalístico reconhecidamente de esquerda chamado Diário do Centro do Mundo. “De 288 professores de História no Brasil, no Chile, na Argentina e no Paraguai, 85% são de esquerda e os outros 15% seriam do centro até a direita, ou seja, achei engraçado porque ainda incluíram o centro”, percebeu Marcel.
Na parte política, o deputado Marcel lembrou que, no Brasil, um social-democrata como Fernando Henrique Cardoso foi costumeiramente apontado como alguém de direita, e que a população foi às ruas para demonstrar sua insatisfação com o espectro político apresentado até então. Para ele, essa insatisfação gerou, inclusive, a queda de uma presidente da República pela via institucional. “Precisamos de uma pluralização, para que as diferentes formas de pensa possam conviver. Agora o PT está sempre falando em discurso de ódio, mas uma retórica bem fundamentada, com argumentos sólidos sem atacar o oponente no lado pessoal, não é ódio. Quem denuncia hoje o discurso de ódio não percebe que acabou semeando a indignação”, comentou.
Segundo o deputado, o marxismo, a ideologia de boa parte da esquerda, é uma ideologia de ódio, que prega a guerra de classes. “O marxismo prega o conflito eterno entre classes econômicas, era assim que que Marx via, de uma forma um tanto deturpada. Após a revolução industrial ele acabou confundindo e transportando para o capitalismo o que acontecia no feudalismo, transportando críticas à vassalagem que acontecia no feudalismo para o livre mercado”, avaliou. Em defesa ao capitalismo, Marcel pontuou que a mobilidade entre as classes econômicas acabou sendo extremamente maior e que a esquerda transportou a guerra de classes da parte econômica para outros setores da sociedade. “Colocaram gays contra heterossexuais, negros contra brancos. Agora cabe à direita responder a esse ódio com argumentos, não xingamentos”, considerou.
Ao mencionar que o deputado Marcel defende o fim da doutrinação nas escola – enquanto deputado estadual Marcel protocolou o projeto Escola Sem Partido na Assembleia gaúcha-, a jornalista Malu Gaspar perguntou como Marcel, um filiado ao Partido NOVO, considera a atitude do ministro da educação Ricardo Velez, que determinou a revisão dos livros de história quando tratam sobre o chamado “golpe de 1964” ou sobre a ditadura. Também sobre o comunicado às escolas em que o Ministério da Educação determinava que se cantasse o hino brasileiro e se recitasse o slogan de campanha do presidente Bolsonaro durante a campanha eleitoral. Marcel disse que é bastante transparente e que é preciso uma reflexão sobre os temas.
“É fundamental nas escolas que se promova o patriotismo, mas a promoção do slogan de campanha é negativo. A mesma coisa sobre a reescrita de livros de história: quem é campeão em reescrever a história são os governos totalitários. Agora, há um outro lado da história, ou uma parte da história, que não está sendo bem contada”, disse Marcel. “Sobre a questão de 1964, não me pronunciei nesta polêmica, mas fui pesquisar. Encontrei um livro do meu avô sobre Castelo Branco, escrito no final dos anos 1980. E o que está descrito ali é muito diferente do que se lê hoje. A história é escrita pelos vencedores e no Brasil tem sido escrita pela esquerda”, disse Marcel.
Para concluir, o deputado indicou que revisar o que foi escrito como história pelos vencedores, pela esquerda, não pode ser uma tarefa a ser realizada da noite para o dia. “Isso não é trabalho para um ministro. Os professores de história que aí estão seguem contando a história da mesma forma. Será preciso que surjam mais professores, jornalistas, identificados com a direita. Já vemos mais livros, mais jornalistas e historiadores de direita se destacando. Este é um trabalho a longo prazo e nós do NOVO não acreditamos no Estado, mas no indivíduo”, lembrou.