Comissão debate desafios e avanços na retomada completa das operações do aeroporto em Porto Alegre

Audiência pública reúne autoridades, empresas aéreas e especialistas para discutir ações e investimentos necessários à recuperação plena após as enchentes do principal aeroporto do Rio Grande do Sul
4 de dezembro de 2024

Foto: Zeca Ribeiro/ Câmara dos Deputados


Na tarde desta quarta-feira (4/12), a Comissão Externa da Câmara dos Deputados que acompanha os danos causados pelas enchentes no Rio Grande do Sul (CEXCIRS) promoveu uma audiência pública sobre a retomada das atividades do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. “Ainda estamos enfrentando dificuldades no translado e estamos aqui para debatê-las e para ver, como parlamentares, como podemos auxiliar”, afirmou o presidente da comissão, deputado federal Marcel van Hattem (NOVO/RS), que coordenou as atividades acompanhado do relator, deputado federal Pompeo de Mattos (PDT/RS). Além dos convidados previstos e alguns parlamentares da bancada gaúcha, representantes do SOS Agro RS (movimento dos agricultores gaúchos pós calamidade) se fizeram presentes no debate que aconteceu no plenário 13 do Anexo II.


O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, participou presencialmente do debate relembrando que o aeroporto não é importante só para a capital gaúcha, mas para todo o Rio Grande do Sul (RS). “Com esta retomada parcial, recuperamos parte da nossa economia, hotelaria, gastronomia e cultura. Sua retomada total é fundamental para o desenvolvimento econômico, é o melhor remédio para a inclusão social”, afirmou. 

Operação Inédita e Esforços Conjuntos

Júlia Lopes da Silva, representante da Secretaria Nacional de Aviação Civil do Ministério de Portos e Aeroportos, apresentou o resultado do trabalho feito em conjunto pela concessionária Fraport Brasil, empresas aéreas, Comando militar da Base Aérea, ParkShopping de Canoas e Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). “3,7 mil toneladas de doações foram transportadas via aérea para atender a população. O aeroporto representa 70% de conectividade com todos os outros estados brasileiros. O que trouxe uma melhora significativa no início das enchentes foi o aeroporto de Canoas”. Júlia explica que foi uma operação inédita e em tempo recorde, já que foi possível transpor todos os equipamentos e o pessoal que trabalhava no aeroporto Salgado Filho para Canoas. “Usar o shopping de Canoas para o embarque e desembarque também foi muito importante”. Lembrou que foram aprovados dois créditos extraordinários, um de R$ 6 milhões em junho e outro de R$ 425,9 milhões em setembro, para viabilizar a retomada das atividades na base aérea de Canoas.

De acordo com o planejamento da concessionária do aeroporto, a Fraport Brasil, há uma previsão de retomada total em 16 de dezembro deste ano, com voos nacionais e internacionais, todavia os voos domésticos estarão completamente restabelecidos a partir de janeiro do próximo ano. O vice-presidente de operações da Fraport Brasil, Edgar Nogueira, tratou do que já foi feito e do que se espera daqui por diante. Segundo ele, desde o dia 3 de maio, início das tragédias, estão trabalhando muito na identificação dos danos, na limpeza e na recuperação. “No dia 21 de outubro, abrimos a pista do nosso aeroporto com a capacidade reduzida e a pista em 1.800 metros, o que permitiu uma média de 116 movimentos(voos)/ dia, ou seja, em torno de 70% do que tínhamos anteriormente, que era de 170 movimentos/dia”. Edgar afirmou que há uma obra no pátio em andamento que tem a previsão de se finalizar em fevereiro de 2025. 

Desafios do Setor e Lições da Crise

Giovano Palma, superintendente de Infraestrutura Aeroportuária da (ANAC), disse que foi criada uma malha essencial entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O apoio para o reembolso de passagens, ações de contingência também foram garantidas pela Agência. “No início só operávamos no período diurno e não poderia ter abastecimento das aeronaves no aeroporto de Canoas. Na medida que foi diminuindo a água conseguimos migrar o embarque e desembarque do shopping para o terminal de passageiros”, relembrou. O superintendente destacou que, segundo a Organização da Aviação Civil Internacional, é necessário considerar as mudanças climáticas no planejamento das infraestruturas aeroportuárias. “Os aeroportos precisam fazer uma avaliação de risco identificando vulnerabilidades, definindo protocolos de preservação de estruturas críticas, de retiradas de pessoas e funcionários. Precisamos estar preparados para que possamos ter uma resposta mais rápida quando uma nova catástrofe dessa acontecer”.

Impactos Econômicos e Demandas Futuras

Diogo Bier, coordenador do Conselho de Articulação Parlamentar da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (FIERGS) afirmou que as projeções feitas pela Federação foram impactadas com a catástrofe e enfatizou a importância de se sensibilizar o governo federal para a liberação de recursos pela retomada do estado, haja vista que os fundos de reconstrução frustraram as garantias reais. “Desde 2022, com a pandemia, já tínhamos reflexos. Já não tínhamos índices favoráveis, aí veio a enchente. A calamidade não para em 31 de dezembro. Quando a gente olha para o Rio Grande do Sul, que é um estado produtor, que gera mais imposto que recebe, o país inteiro tem que se sensibilizar, porque poderá haver o momento em que nós não teremos mais condições de concorrer com o mercado nacional e global”. 

As empresas aéreas também estiveram presentes à audiência. Mateus Motta, gerente de Infraestrutura da Gol Linhas Aéreas, afirmou que, com a retomada total, os voos diários irão aumentar. “Fizemos voos com donativos, fizemos parceria com aeronaves da Colômbia, saindo de Campinas para Canoas e conseguimos restabelecer a conectividade. A Gol sempre esteve ao lado do povo gaúcho”. Já o chefe de Relações Institucionais da LATAM, Eduardo Macedo, salientou que a crise expôs a importância e a relevância da aviação civil no transporte de pessoas e cargas. “Demonstramos a capacidade de dar uma pronta resposta. Criamos canais específicos para os passageiros de Porto Alegre; readequamos as rotas para Santa Catarina; a Latam foi a primeira a voar para a base aérea de Canoas; realizamos ações de voos humanitários com o ‘avião solidário’, que foi direcionado para o Rio Grande do Sul, transportando doações e voluntários ”. Fernando Mattia, gerente de Relações Institucionais da empresa Azul Linhas Aéreas, disse que a empresa garantiu que muitos donativos chegassem aos necessitados. “Operamos em seis outras bases quando do fechamento do aeroporto Salgado Filho: Caxias do Sul, Pelotas, Passo Fundo, Santa Maria, Uruguaiana e Santo Ângelo”.

Thiago Romanelli Rodrigues, comandante da Base Aérea militar de Canoas, conhecida como BACO, apresentou os desafios que precisaram ser superados na Base durante a catástrofe: voos de resgate e evacuações aeromédicas com helicópteros em Santa Maria; a criação do comando conjunto com as Forças Armadas para traçar ações de assistência humanitária; envio de itens de necessidade básica para populações ilhadas; dois hospitais de campanha montados; readaptação da área de taxi de aviões para receber aviões de grande porte, o que deixou fissuras na pista. “Mais de 2 mil pessoas foram resgatadas pela FAB”. 

Rafael Carniel, secretário de Turismo do Rio Grande do Sul, informou que tem participado das negociações para a captação de novos voos para o Estado. “Nós temos a perspectiva de operar em 13 aeroportos conectados diretamente à Porto Alegre. Vai haver um aumento de assentos disponíveis para São Paulo, Brasília e Salvador no próximo ano. No entanto, haverá redução de assentos para Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Curitiba. Tivemos a interrupção das operações em Florianópolis, Foz do Iguaçú e Joinville. Até abril, a expectativa é superar os 400 mil assentos disponíveis”, informou.

Compromisso com a Recuperação

Cesar Luiz Salazar Saut, conselheiro da Câmara Americana de Comércio (AMCHAM) disse que a entidade mobilizou a sociedade civil e as empresas aéreas, para chamar a atenção para o preço do transporte para o RS. “Durante o período, as passagens aéreas para o estado subiram três vezes mais do que a média nacional, às vezes mais do que 50% a mais. Sabemos que o preço se estabelece além da oferta e da procura, mas estamos com uma sociedade maculada”. 

Paulo Eduardo Cavalcanti, superintendente da Gestão de Operações da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (INFRAERO), disse que a empresa recebeu a outorga dos aeroportos de Torres e Canela e envidará esforços para que as empresas aéreas possam ampliar as rotas, utilizando esses aeroportos. Por fim, Raul de Souza, diretor de Segurança e Operação da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR) falou em números da evolução positiva de passageiros ao longo do período de calamidade. “Operar em Canoas foi transformar uma ‘operação raiz’ tipicamente defesa aérea em uma ‘operação gourmet’”.

Mais notícias